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Como a comunicação científica pode acontecer em qualquer lugar


Numa era em que a informação está a apenas a um clique de distância, estamos sobrecarregados de notícias sobre política, desporto e o brilho dos Óscares. No entanto, parece que é necessária uma pandemia global para que a ciência ganhe o destaque que merece nas nossas televisões e nos feeds das redes sociais. Será que isto acontece porque as pessoas cientistas não comunicam eficazmente com o público? É hora de trazer a ciência do laboratório para o mundo.


Como jovem cientista, passei horas em viagens de comboio para chegar ao laboratório onde trabalhava, uma rotina muitas vezes perturbada por greves de comboios em Portugal.


Um atraso do comboio levou a uma conversa com um estranho a pedir informações, que rapidamente se transformou numa conversa sobre doenças autoimunes. Naquela época estava a fazer uma pós graduação em biomedicina, e não tinha ensino superior, mas bastante curioso sobre o que eu fazia. Mencionei o meu foco de pesquisa na autoimunidade e, para minha surpresa, ele falou sobre a sua batalha contra a psoríase . O caos dos comboios foi uma chance para eu entrar num território inesperado: a comunicação científica.


Comunicação científica é uma disciplina separada, comprometida em aumentar a conscientização sobre temas relacionados à ciência e envolver públicos que incluem, pelo menos em parte, pessoas de fora da comunidade científica.


Poucas coisas entusiasmam mais as pessoas cientistas do que discutir o seu trabalho. Senti o dever de compartilhar claramente o meu conhecimento sobre a sua condição, sem parecer uma cientista maluca e o sobrecarregar desnecessariamente.


Esta breve interação serviu como um lembrete da lacuna existente entre o conhecimento científico e a compreensão pública, particularmente no que diz respeito às questões de saúde que afetam diretamente a vida das pessoas. Consegui simplificar conceitos complexos apenas usando linguagem quotidiana e analogias para transmitir os meus pontos de vista, comparando o sistema imunológico com uma força de segurança que defende o nosso corpo e as doenças auto imunes a um fogo amigo onde o corpo ataca erroneamente os seus próprios tecidos. Fazer esse “zoom out” e conectar a informação ao nosso entorno ajuda a interagir com o público e também pode melhorar a escrita científica e a compreensão do impacto real dos esforços científicos na sociedade. A maioria das pessoas cientistas é treinada para fazer ciência, publicar as suas descobertas e presumir que elas atingirão naturalmente um público amplo. No entanto, ainda existe uma atitude controladora e um tanto elitista na comunidade científica que limita o acesso à informação.


Olhando retrospetivamente, percebo que esta conversa teve um impacto profundo em nós dois; fez-me compreender como é crucial comunicar a ciência de forma eficaz fora do laboratório e capacitou-o a compreender e gerir melhor a sua doença.


Como a Native Scientists, comprometi-me a melhorar a comunicação científica para uma sociedade mais informada e a inspirar os jovens estudantes a explorar os campos STEM. Para conseguir isso, o primeiro passo é tornar a ciência acessível a todos.


Tornar a comunicação científica uma parte integrante da formação académica desde uma fase inicial adotaria os investigadores com as competências necessárias para partilharem com confiança o seu trabalho com públicos mais vastos, incluindo a indústria, os decisores políticos e o público. Recentemente, a Universidade do Luxemburgo lançou um livro de acesso aberto com diversas dicas sobre divulgação científica que visa fomentar uma cultura de curiosidade e diálogo na comunidade científica.


Ao desenvolver colaborações com comunicadores científicos e educadores, as pessoas cientistas podem sentir-se inspirados a tirar partido das plataformas digitais e das redes sociais para traduzir informações complexas em conteúdos envolventes e divertidos.


Em última análise, a divulgação científica eficiente é essencial para promover uma sociedade cientificamente alfabetizada, capaz de tomar decisões baseadas em evidências e combater a desinformação sobre vários temas quentes, como as vacinas e as alterações climáticas.


A minha experiência mostrou-me que somos cientistas onde quer que vamos, mesmo sem as nossas jalecas. É no mundo quotidiano, como nos transportes públicos, que encontramos oportunidades para partilhar o nosso conhecimento, especialmente com aqueles que mais dele podem beneficiar. Para fazer isso de forma eficaz, precisamos abrir as nossas mentes e portas de laboratório para todos.

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