O programa Mesma Comunidade Migrante celebra onze anos desde a sua primeira oficina
A 23 de novembro de 2013, o programa Mesma Comunidade Migrante (MCM) desenvolveu a sua primeira oficina em Londres para a comunidade portuguesa. Faremos uma reflexão sobre como o programa cresceu e evoluiu, e como o mesmo continuará a ajudar na educação de crianças migrantes no futuro.
O MCM cria pontes entre crianças e cientistas da mesma comunidade, ao organizar oficinas de ciência administradas na língua materna que ambos partilham. O principal objetivo do programa é ampliar os horizontes das crianças, fomentar o desenvolvimento da língua, promover a literacia científica e o acesso ao ensino superior.
Até à data, o programa realizou mais de 300 workshops em 10 países diferentes: Reino Unido, Irlanda, França, Bélgica, Países Baixos, Alemanha, Suíça, Noruega, Suécia e até mesmo Portugal. Ao longo dos anos, as oficinas foram feitas em 11 línguas diferentes: português, espanhol, francês, alemão, estónio, polaco, árabe, turco, grego, italiano e croata. Graças a esta diversidade, cerca de 1.100 cientistas apresentaram o seu trabalho a mais de 6.600 crianças migrantes.
Como surgiu a ideia do MCM? Em 2012, durante a reunião anual da Portuguese Association of Researchers and Students in the UK (PARSUK), surgiu uma iniciativa chamada Schools Projects. O objetivo era chegar às crianças portuguesas que viviam em Londres, dando-lhes assim a oportunidade de conhecer cientistas portugueses que trabalhassem na mesma cidade. Os dois principais objetivos do projeto eram reforçar o uso da língua portuguesa entre crianças criadas no Reino Unido e criar uma ligação entre estas crianças e a comunidade académica da PARSUK.
Em meados de 2013, realizaram-se mais algumas oficinas piloto em parceria com a PARSUK e o Instituto Camões. Nestas oficinas, a interação direta entre alunos e mentores facilitou o processo de aprendizagem. Além disso, ao falarem na sua língua materna, os alunos sentiram-se mais à vontade para fazer perguntas, sem receios. Inquéritos realizados após as oficinas revelaram que tanto os alunos como os mentores gostaram muito da experiência e manifestaram a vontade de participar novamente. A 23 de novembro de 2013, em Londres, nasceu oficialmente o programa Mesma Comunidade Migrante, o primeiro projeto da organização Native Scientists.
Sendo um programa criado por cientistas, foi natural que desse origem a um artigo científico onde se explicaria a ciência por detrás do projeto. Este artigo, publicado em 2024 na revista Science Education, discute a eficácia do método pedagógico inovador do MCM. Diversas publicações mostram que, frequentemente, os estudantes migrantes têm desempenhos escolares abaixo da média. Isto deve-se a vários fatores, tais como “crises de identidade, barreiras linguísticas, baixo capital científico, reduzido envolvimento parental e problemas de preconceito e perceção em relação à sua herança”. Assim, “fomentar o sucesso e a motivação dos estudantes migrantes é de grande relevância educativa e social, sendo urgentemente necessárias abordagens eficazes para compensar as desvantagens deste grupo”, como referido no artigo.
As oficinas criam momentos de “eureka” para os estudantes migrantes multilíngues, especialmente aqueles com pouca motivação prévia para a ciência ou para a sua língua materna, aumentando a valorização da ciência e da sua herança cultural. Joana Moscoso, fundadora da Native Scientists e cofundadora do programa MCM, analisou anteriormente os benefícios para os cientistas voluntários nas oficinas e, juntamente com Ana Isabel Catarina e Afonso Bento, publicou outro artigo em 2023 na revista Frontiers in Communication.
A promoção do envolvimento público com a ciência (Public Engagement with Science, PES), como mencionado no artigo, tem sido feita ao longo dos anos através de vários modelos de intervenção com diferentes objetivos. No programa MCM, os cientistas que realizam as oficinas compartilham a mesma língua e um contexto cultural comum com os alunos. Estes fatores são um tema único e interessante de estudo. Os dados recolhidos no final do estudo mostraram que 32% dos cientistas se sentiram motivados a colaborar devido à missão científica do programa, seguidos dos 18% que se juntaram devido à missão linguística.
Estes trabalhos são a prova científica de que o programa MCM da Native Scientists empodera estudantes de minorias étnicas. O formato das oficinas promove a integração e inspira os alunos a enfrentarem desafios científicos, tecnológicos e sociais. “O que começou como uma ideia simples evoluiu para um piloto, depois uma visão, e hoje floresceu numa iniciativa vibrante, ao abranger várias cidades e países por toda a Europa. Testemunhar o impacto transformador dos alunos e cientistas ao longo dos anos tem sido incrivelmente gratificante. Ao celebrarmos este marco, reafirmamos o nosso compromisso em promover o acesso equitativo à educação científica em comunidades migrantes e aguardamos com entusiasmo a continuação desta jornada significativa nos próximos anos”, afirma Joana Moscoso, cofundadora e diretora da Native Scientists.
O programa Mesma Comunidade Migrante continua a expandir-se e, este ano, a Native Scientists chegará a mais de vinte cidades em toda a Europa. Estamos dedicados à nossa missão de levar a educação científica a crianças migrantes em situação de desvantagem. Com cada nova cidade, reforçamos o nosso compromisso com a inclusão, a equidade educativa e a construção de um futuro melhor para todos.
Sobre a Native Scientists:
Fundada em 2013, a Native Scientists é uma organização sem fins lucrativos pan-europeia que cria pontes entre crianças desfavorecidas e cientistas. A sua missão é ampliar os horizontes das crianças, promovendo a literacia científica e reduzindo as desigualdades através de programas educativos de divulgação científica.
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